Dupla personalidade

Chama atenção a instabilidade apresentada pelos clubes cariocas nesse início de temporada. Nenhum dos quatro grandes conseguiu, até agora, transmitir confiança para seu torcedor. Nunca sabemos quem estará em campo: Clark Kent ou o Super Homem. Algumas vezes,  a mudança ocorre na mesma partida. Quarenta e cinco minutos para cada personalidade. Vide Flamengo capaz de estar vencendo por 3 x 0 e deixar o adversário empatar nos 15 minutos finais.

Pelas semifinais do Campeonato Carioca, o Vasco numa tarde inspirada de Felipe venceu o Flamengo, eliminando o time rubro-negro da competição e decretando férias antecipadas. A torcida vascaína foi ao delírio ao ver seu maior adversário fora de todas as competições do primeiro semestre. Durante uma semana, a faixa diagonal circulou livremente pelas ruas do Rio. O sorriso estampado no rosto, a piada na ponta da língua lá vai o torcedor feliz da vida.

Eis que no domingo seguinte, na decisão contra o Botafogo não jogamos nada e fomos facilmente abatidos. Mais um vice para nossa coleção. Do céu ao inferno em 7 dias. O peito dolorido da pancada não estampava mais a Cruz de Malta. A torcida incrédula se perguntava o que tinha acontecido. Dois jogos. Mesmo lugar. Mesmo elenco. Como explicar atuações tão distintas. Ninguém desaprende a jogar futebol tão rapidamente. Não há como explicar. O negócio é transferir o bastão da alegria para o torcedor alvinegro.

Ele, claro, aceita de bom grado e festeja o título invicto. Para melhorar ainda mais ganha uma musa inspiradora e faz as pazes com jogadores desafetos. Não deu outra. A Estrela Solitária tomou as ruas da cidade. Não viam a hora de disputar o primeiro jogo da final contra o Fluminense. Em sua última atuação, jogando pela Libertadores o representante das Laranjeiras havia conseguido segurar o Inter (0 x 0) em Porto Alegre, numa atuação discreta.

Chegamos ao grande dia. Pelo retrospecto de confronto direto entre as equipes, nos últimos anos, todos esperavam uma partida acirrada. E talvez, alguns ainda envolvidos pela vitória contra o time da Colina, apostassem no alvinegro como favorito. Garanto que ninguém esperava a goleada aplicada por Rafael Sóbis e cia.  Lá foi o alvinegro terminar o domingo com um sonoro 4 x 1. Hora de passar o bastão para tricolor. Agora é a vez do grená dar cor às ruas. A felicidade refletida no rosto e  a confiança reforçada para o jogo de volta contra o Inter.

O Botafogo a fim de maltratar ainda mais seu torcedor perdeu para o Vitória, em pleno Engenhão, e deu adeus a Copa do Brasil. O sonho de se classificar para a Libertadores ficará restrito a campanha no Brasileirão. O Vasco, por outro lado, conseguiu melhorar um pouco o ânimo de seu torcedor, ao se classificar para as quartas-de-finais da Libertadores. O adversário será o perigoso Corinthians.

É muito preocupante esse comportamento instável, já que o Campeonto Brasileiro está prestes a começar. Um campeonato de pontos corridos, em que a regularidade é fundamental para uma boa campanha. Não adianta absolutamente nada um time aplicar uma goleada e nas rodadas seguintes só perder. Ou ser o campeão de um dos turnos e no outro ser o lanterna.  Esse tipo de regulamento exige pontuação constante. Para tanto é imprescindível ter elenco, peças de reposição. Não basta ter um time titular excelente. A competição é longa. Fatalmente, os jogadores irão se contundir, serem suspensos ou quem sabe quando a janela de transferência abrir lá, em agosto, serem vendidos para algum time insosso do exterior.

Será que os próximos meses serão de alegrias e expectativas por mais um título ou de rezar para não cair ou de se contentar com um prêmio de consolação (Copa Sulamericana)?

Na próxima partida, quem será que veremos em campo Clark Kent ou o Super Homem?