Ontem, fui assistir a Vasco x Bangu em jogo válido pela terceira rodada do Campeonato Carioca. Quem leu meus post anteriores deve está confuso com meu gesto, já que sempre que posso afirmo a precariedade do Cariocão, desvalorizando-o em função da diferença entre os doze pequenos e os 4 gigantes quanto a técnica e investimento.
Então, vamos às explicações. Tenho uma memória afetiva com o estádio de Moça Bonita. Ali, em 1999, assistir ao meu primeiro jogo oficial em um campo de futebol. Vencemos por 1 (gol do atacante Luizão). O placar foi o de menos. Naquele domingo aprendi a diferença entre ir aos estádio e assistir aos jogos pela televisão.
Não há tv de 500 polegadas, todos os recursos possíveis, jogada vista de vários ângulos, o conforto de seu sofá, um banheiro limpinho a sua disposição a qualquer momento ou um festival de informações e comentários. Nada disso compete com a sensação de ir ao estádio, de fazer parte do espetáculo. Entoar cantos e coreografias empurrando seu time à vitória. Compartilhar seu amor com outros torcedores. Você é a torcida.
Enfim, como faço sempre que vou a qualquer estádio, grande ou pequeno, comprei o ingresso com antecedencia, cheguei cedo, entrei e me acomodei à espera do início do jogo. Apesar do horário comercial a festa estava grande. O Vasco não se apresentava em Bangu há 8 anos. E a torcida compareceu em grande número para matar essa saudade. Faltando cerca de 1 hora para o jogo começar havia mais gente do lado de fora do que dentro. Os bares estavam lotados. A antiga mania de deixar para entrar faltando poucos minutos para o jogo.
O estádio de Moça Bonita está sendo um dos mais usados nesse campeonato. Além de sediar os jogos do Bangu ainda recebe os jogos do Bonsucesso, já que inexplicavelmente o rubro-anil não pode mandar seus jogos no Leônidas da Silva. A casa do Bangu passou por um processo de embelezamento, uma pinturinha aqui, um embolso ali nada de muito significativo. A torcida ainda precisa se acomodar em uma arquibancada de concreto sem nenhum tipo de proteção exposto a sol ou chuva.
Bangu é um bairro conhecido nacionalmente pelas temperaturas elevadas. Um jogo em pleno horário de verão às 17h é um absurdo. Não há sombras. O sol brilha literalmente para todos. O torcedor precisa ficar muito atento quanto ao placar do jogo, pois não há placar eletrônico diigital, manual ou qualquer aviso sonoro para informar o resultado. No momento, das substituições descobrimos a existência de um serviço de som. Mas, somente os torcedores das sociais pela próximidade podem ouvir as mudanças. Os demais permancem na ignorância. O gramado que na rodada passada foi alvo de severas críticas dos jogadores do Botafogo que lá estiveram. Merece toda a cornetada. Um horror. Eu que sou miope consegui perceber com uma certa distância o desnível, a grama alta (quando de sua existência) e muita areia para tapar os buracos.
Apesar dos pesares o time cumpria seu papel. Venciamos por 2 a 0 com muita facilidade apesar do sol e da crise financeira que assola o clube. Nem esses problemas podem diminuir o abismo entre os dois clubes. A diferença é grande demais. Até que ouvimos uma série de barulhos. E logo em seguida uma nuvem de spray de pimenta chegou às arquibancadas. Tentamos nos proteger da melhor maneira possível sem saber o que estava acontecendo. Os maiores atingidos foram crianças e idosos que sofreram com a ardência nos olhos. A nuvem seguiu até o gramado atingindo os jogadores. O jogo então foi paralisado. Só então ficamos sabendo, graças a rádio que transmitia o jogo, o que estava acontecendo.
Cerca de 3.000 torcedores com ingressos em mãos foram impedidos de entrar em função da superlotação. Revoltados protestaram contra esse absurdo. Alguns mais exaltados forçaram a entrada e a polícia, que mais uma vez, deu provas de que não sabe lidar nessas situações resolveu barrá-los com balas de borracha, gás de pimenta e bombas de efeito moral. Moral da história torcedores que pagaram pelo ingresso e perderam seu tempo em filas não conseguiram assistir ao jogo e ainda foram agredidos. Soube que um grupo se encaminhou para a delegacia mais próxima a fim de registrar ocorrência. Torço para que tenha sido um número bem elevado. E que a justiça seja feita.
O mandante do jogo era o Bangu e seus dirigentes deram uma prova da incapacidade de administrar um clube cada vez mais decadente, que não pontuou ainda no campeonato, e tem um elenco incapaz de brigar por qualquer coisa, exceto para não cair, e da ganância para lucrar vendendo mais ingressos do que o permitido. É inadimíssivel que diante da precariedade do estádio jogos continuem sendo realizados. Já havia tido problemas na primeira rodada quando o Fluminense enfrentou o Frigueirense lá (continuo sem saber o porquê dessa escolha) em que a torcida só conseguiu entrar quando o jogo já havia começado.
A história poderia ter terminado de maneira muito pior ontem. O fato de não ter tido vítimas fatais (graças a Deus) pode não dar a dimensão do ocorrido. O que ocorreu no jogo no Egito, em que uma torcida invadiu o campo após o apito final para agredir os jogadores adversários, torcedores rivais e qualquer um que entrasse em seu caminho e fez dezenas de vítimas poderia ter acontecido em qualquer dos nossos estádios. Os mesmos estádios que irão sediar a tão falada Copa do Mundo de 2014. Não adianta em nada reformar estádios, criar estradas, viadutos e mobilizar todas as ações de uma cidade, em função de um evento esportivo, se esse tipo de coisa continuar sendo visto como um acaso. Até agora não veio a público nenhuma autoridade explicar o que aconteceu ou ao menos se desculpar. Dirigentes do Bangu ou do Vasco ou qualquer representante da Polícia Militar se dignou a dirigir-se aos torcedores que foram lesados.
O site da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro não faz nenhuma menção ao eventos do Moça Bonita. Uma simples resenha da partida e nada mais. Esse descaso explica muito coisa, sobretudo, o juíz de péssima qualidade que colocaram para apitar a partida. Quando ele cansou de inverter faltas resolveu dar mais emoção ao jogo, marcando um pênalti inexistente a favor do Bangu. Um comentarista de tv definou muito bem a suposta falta ao afirmar que o jogador tropeçou na formiga.
Ah sim, eles alegaram que não esperavam que a torcida do Vasco comparecesse em grande número e causasse tanto tumulto. Primeiro a torcida não causou tumulto. Só quis exercer seu direito de consumidor que pagou por um produto e não pode utilizá-lo. Segundo o torcedor tem o direito de entrar para assistir o jogo a hora quiser, desde que esteja portando seu ingresso. Eu, por exemplo, prefiro chegar antes e fazer tudo com calma, mas se um dia resolver chegar em cima da hora ou com o jogo já em andamento, não poderei fazê-lo pois corro o risco de não ter mais lugares.
Comemoramos recentemente o sexto lugar de nossa economia em esfera mundial, mas em muitos aspectos ainda continuamos um país subdesenvolvido – educação, saúde, transporte público – só para citar alguns. A maior reforma e, que precisa ser feita, urgentemente, é nos recursos humanos. São dirigentes como esses que estão organizando o maior evento esportivo do mundo e será essa polícia que irá nos proteger. Será que os torcedores de Espanha, Portugal, E.U.A, Alemanha e Inglaterra terão esse mesmo tratamento ou isso é privilégio de nós - os nativos?
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