O esperado aconteceu. O Clube de Regatas Vasco da Gama foi rebaixado para a 2ª Divisão do Campeonato Brasileiro. O time precisava vencer o Atlético Paranaense e torcer por uma derrota do Criciúma contra o Botafogo. Pois bem, o Botafogo derrotou facilmente os catarinenses, mas não fizemos nossa parte e fomos goleados pelo Furacão. Apesar do placar elástico, o bom futebol passou longe de Joinville. O jogo ficou marcado pela batalha protagonizada pelas torcidas organizadas dos clubes. Vascaínos e Atleticanos se enfrentaram nas arquibancadas do Estádio. Por alguns minutos, pela ausência absurda de policiamento, se espancaram livremente.
As imagens das agressões são chocantes, mas não surpreendentes. Esse tipo de episódio é comum nos estádios brasileiros. Talvez, o que tenha impressionado foi a falta de policiamento. A tragédia só não foi maior por obra do acaso. Resultado: alguns feridos e outros presos. A maioria dos feridos e presos já foram liberados para se preparem para o próximo confronto. Diante de tamanho absurdo assistimos a uma enxurrada de declarações de autoridades, atletas, políticos, jornalistas, cartolas etc condenando veementemente os atos. Contudo, sabemos que na prática nada vai ser feito. A impunidade reinará mais uma vez.
Esse comportamento criminoso não é característica somente das torcidas envolvidas na briga de domingo. Pelo contrário, essa é uma particularidade comum a todas. Esse tipo de agremiação deveria ser banida para sempre do futebol brasileiro à exemplo do futebol inglês. Os ingleses depois de muito sofrerem com a violência de seus hooligans resolveram bani-los dos estádios. Com certeza não foi uma ação simples e nem rápida. Foi preciso muito planejamento e um trabalho conjunto de autoridades e sociedade. Mas, foi possível.
Não sei como era a relação das torcidas organizadas inglesas com seus respectivos clubes. Aqui, no Brasil temos uma relação de profunda promiscuidade. Dirigentes patrocinam essas torcidas, bancando viagens, liberando ingressos, cedendo sedes dos clubes para realização de eventos, distribuindo produtos licenciados, promovendo o acesso livre às dependências dos clubes etc. Em troca as usam para derrubar treinadores, pressionar jogadores, encher estádios em jogos sem apelo de público, serem eleitos etc, etc, etc. Não há interesse real em acabar com essas torcidas.
O futebol brasileiro está longe do padrão de qualidade FIFA. Não entendemos o futebol como um entretenimento. Nossos estádios ainda sofrem com o abandono, descaso, desconforto e falta de segurança. Não foram feitos para atender às necessidades do torcedor comum, aquele que não faz do fato de torcer para seu time uma profissão. Ele compra seus ingressos e em troca quer receber um estádio confortável, limpo, seguro, com opções de alimentação, banheiros limpos, e claro, assistir a um bom futebol. Se nada disso for oferecido ele simplesmente não vai. Simples assim.
Nossos clubes, em sua maioria, não tem condições de oferecer o mínimo de qualidade ao torcedor, pois estão afundados em dívidas, além de praticarem administrações despreparadas e ineficientes. A venda de ingressos já é um show de horrores com pouquíssimos postos de vendas, preços absurdos, cambistas atuando livremente etc. Então, para nossos ilustres dirigentes, as torcidas organizadas são fundamentais. Seus integrantes não exigem muita coisa. Basta que seu time ganhe a qualquer custo, não estão nem ai para administração, cumprimento de contratos, pagamento de dívida... Ah claro, também é fundamental que possam liberar suas testosteronas, casualmente, matando uns aos outros.
Por isso não acredito na punição dos torcedores envolvidos na briga de domingo e, muito menos, que os clubes - Atlético e Vasco - sejam exemplarmente punidos. Uns podem ficar presos por alguns meses, mas serão soltos e no próximo campeonato já estarão atuando novamente munidos de paus e pedras. Os clubes perderão alguns mandos de jogos, mas nada muito significativo. Ah sim, a provável multa financeira irá se somar ao montante de dívidas a pagar. Enfim, tudo acabará em pizza.
Enquanto nossos dirigentes, jogadores, torcedores e sociedade não entenderem que futebol não é uma paixão nacional, e sim entretenimento conviveremos com essas torcidas organizadas agindo livremente, clubes falidos, jogadores sem profissionalismos (a moda agora é declarar seu amor pelo clube do coração em redes sociais, mesmo estando contratado pelo adversário), imprensa parcial e torcedores apáticos que quando seu clube, mesmo repleto de problemas, consegue chegar a uma final nacional pagam r$800,00 num ingresso. E assim caminhamos para a Copa 2014.
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