sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Não é mais "proibido proibir"?








Todos que me conhecem sabem da minha admiração pelo compositor Chico Buarque de Hollanda. Sempre admirei sua luta contra a ditadura; imaginava como deve ter sido dolorosa a experiência de ser exilado do país amado; vibrava com a criatividade que ele se esquivava da censura, chegando até mesmo a inventar um pseudônimo (Jorginho da Adelaide) para poder escrever suas obras de arte. Ele, Caetano e Gil formavam opiniões, incentivavam os mais jovens a lutarem por liberdade e eu mesmo sempre os citava como exemplos de luta política, colocando Roberto Carlos no lado oposto (independente da obra deste como cantor e compositor).
Foi com um misto de incredulidade, decepção e amargor que soube que esse trio, justamente este trio, estão agora defendendo a censura!!!!!!
Um comediante do rádio diz que por mais que viva nunca verá tudo e eu aproveito para repetir outra frase feita: Nunca imaginei que um dia veria esses três baluartes da liberdade defenderem a censura! Logo quem? Caetano? Aquele que dizia que era proibido proibir? Não acredito!
Toda essa conversa é para comentar a respeito do manifesto que estão fazendo junto ao Supremo Tribunal para que mantenham a proibição de se escrever biografias sem autorização da personagem em questão. Ora... autobiografia ou biografia autorizada é apenas marketing pessoal.
Acredito que uma pessoa pública abdica de sua privacidade ao assumir essa condição. Uma pessoa pública é um livro aberto!
Eu duvido que Chico, Caetano e Gil não tenham em algum momento de suas vidas, lido alguma biografia!
Em tempos de internet, em que os papéis tradicionais da imprensa estão sendo reduzidos a pó pelo imediatismo das postagens em blogs, jornais eletrônicos e portais de notícias espalhados pelo mundo inteiro, duvido que exista ainda algo a esconder na vida de uma pessoa pública que possa manchar sua história pessoal de uma maneira tal que ela não possa mais exercer sua atividade! Ainda mais em tempos tão permissivos como os de hoje em dia aonde o escândalo chega a ser um atalho para a fama. Mesmo que efêmera.
Revistas, jornais, documentários e quaisquer outras formas de debates públicos sobre personalidades esmiúçam suas vidas para todos nós, a todo momento. Em um mesmo dia vc pode ler que Cazuza era gay; que Caetano e Gil fumavam maconha; que Chico Buarque não era bem vindo na Rede Globo;  que Elis Regina morreu de overdose de cocaína e que Renato Russo morreu de AIDS. Isso de alguma forma atrapalhou sua arte? Impediu venda de discos ou rendeu menos entradas para um show de qualquer um deles?
Há um argumento forte por parte dos artistas que dizem o seguinte: “A minha vida me pertence, minha obra é que é pública!”
Ora... na criação artística, público e privado são conceitos que na grande maioria das vezes se misturam o tempo inteiro! Cabe ao escritor separar o que é significativo para a história particular que quer contar, do que é calúnia, maledicência ou mera invasão de privacidade.
Acho que quem realmente se interessa por “defender a honra” dos biografados são os “herdeiros da obra”. Coloquei entre aspas porque muitos querem apenas e tão somente, lucrar com a morte do artista. Pessoas que não conseguiram viver às custas do parente famoso em vida, querem fazê-lo depois de falecido.

Não quero crer que o que movimenta os três artistas citados aqui em apoio ao “Rei” Roberto Carlos, tenha sido uma troca de favores em relação às suas lutas no terreno dos direitos autorais. Aí seria demais para minha cabecinha de fã. Isso, sim, causaria um enorme prejuízo na forma como vejo três artistas que muito admiro (ainda). 

2 comentários:

G.A.S disse...

Tenho acompanhado de longe essa história tamanha é a minha incredulidade. O negócio é muito sério mesmo. Os jornais tem noticiado como se fosse proibida somente as biografias, mas esse bendito artigo 20 trata também de qualquer escrito, áudio ou imagem que possa denegrir a boa fama de alguém. Ou seja poderão censurar tudo: matérias de jornais, reportagens, documentários... Um absurdo.

G.A.S disse...

Isso tudo, a meu ver, não se trata de luta pela privacidade e, sim, de interesses financeiros. O bom e velho dinheiro tá corrompendo esses "baluartes da liberdade de expressão". Simples assim.