quinta-feira, 7 de março de 2013

Descaso olímpico


Quando a nova diretoria do Flamengo tomou posse surpreendeu muita gente com algumas decisões acertadas, principalmente, financeiramente. O presidente, em seu discurso de posse, afirmou que o compromisso de sua gestão seria quitar as dívidas do clube. A primeira ação foi contratar uma empresa para elaborar uma auditoria das contas e dimensionar os valores reais da inadimplência histórica.

Achei muito profissional essa nova postura e cheguei a pensar que as coisas começavam a mudar por lá. Infelizmente, as eleições no futebol são muito parecidas com nosso pleito político. O detentor do cargo anterior quando perde parece que sua única obrigação é esvaziar a sala. Não precisa se preocupar em entregar nenhum tipo de relatório explicando, justificando e contabilizando as ações de sua gestão. O seu sucessor faz a mesma coisa e lá vamos nós num círculo vicioso sem fim.

Conforme os números estão sendo apurados a imprensa pública matérias relacionadas a má administração anterior. E o clube já assumiu que deve muito mais do que declarado recentemente. Se comprovado que a gestão da ex-presidenta, Patrícia Amorim, cometeu improbidade administrativa o clube tem como obrigação fazer com que os culpados sejam punidos legalmente.

Por essa postura profissional da nova diretoria rubro-negra é que fiquei surpresa com o anúncio da extinção do judô e ginástica olímpica de alto rendimento do clube. Quando não renovaram o contrato com o nadador César Cielo a justificativa foi a de que o clube iria investir somente na formação de atletas, ou seja, nas divisões de base. Contudo, não é isso que estamos vendo. Estamos presenciando um desmantelamento injustificável. Não há falta de verba no mundo que justifique essa atitude. Uma tremenda falta de respeito com os atletas, que sequer foram comunicados pessoalmente. Bastou uma nota anunciando a decisão. Essa atitude soa como uma retaliação à administração anterior que se propôs a investir em esportes olímpicos, sendo a própria ex-presidenta  uma ex-nadadora.

A eterna falta de patrocínio foi à justificativa para essa ação radical. No entanto, o Flamengo sequer procurou novas alternativas ou conversou com os atletas e comissão técnica envolvidos. Simplesmente anunciou o fim das atividades. Judô, natação e ginástica são três modalidades olímpicas e estamos às vésperas de uma edição dos Jogos que será realizada em nossa casa. Se nem assim, os esportes ditos amadores, conseguem respeito é melhor nos prepararmos para uma atuação pífia, pois de nada adiantará se com a proximidade dos Jogos patrocínios pipocarem para nossos atletas.

Não se faz uma campeã ou campeão olímpico faltando dias para a abertura dos Jogos. Primeiro foi à extinção do Estádio Célio de Barros para a construção do Complexo Maracanã. Agora com essa decisão do Flamengo mais atletas ficaram desempregados e sem local de treino. Ah e para piorar, ainda mais as coisas, nem o basquete rubro-negro – que há poucos dias tomou o noticiário pela sua invencibilidade na Liga – está a salvo. Por enquanto, se manterá devido ao patrocínio vigente. No entanto, a continuidade não está  garantida. Isso tudo, repito, na cidade que irá sediar os Jogos.

Infelizmente, o Flamengo não é o único clube de futebol que menospreza os esportes olímpicos. Recentemente, o jornal O Globo denunciou o fechamento da piscina do Vasco por falta de manutenção. Atletas e comissão técnica relataram, anonimamente, as condições precárias de trabalho no Clube da Colina. O Vasco foi outro que usou a falta de patrocínio como desculpa. 

Os Clubes vivem reclamando da falta de verbas para os esportes amadores, mas não fazem nada para mudar isso. No momento, em que buscam patrocínios não pensam nas outras modalidades. Só há espaço para o futebol.  Assim, as outras ficam a mercê da receita do clube sem o patrocínio, ou seja, praticamente nada, já que a maioria dos clubes não tem uma estrutura decente para funcionar e render como tal.

O futebol é a paixão nacional. Todo mundo sabe disso. Mas, isso não nos impede de praticar e investir em outras modalidades. Se os outros esportes são tão desnecessários assim por que, motivo, razão ou circunstância queremos tanto nos transformar em cidade olímpica?

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