Ontem, assistindo ao primeiro tempo de Brasil 2 x 2 Chile fiquei surpresa com a reação da torcida. Na verdade, a palavra certa não é surpresa, porquanto tenho observado esse comportamento em outros jogos há um certo tempo. Usaremos, então, decepção. Isso. Fiquei completamente decepcionada com o comportamento dos torcedores que comparecem ao Mineirão. Cheguei a pensar que era impressão minha até que o comentarista da Sportv, Paulo César Vasconcellos, afirmou minha suspeita. Já haviam passado mais de 25 minutos de jogo e a torcida ainda não havia "torcido". Nenhuma palavra de incentivo para a nossa seleção. A primeira manifestação veio em forma de vaias aos chilenos. E depois através do pedido pela entrada do atacante Pato. No entanto, quando os jogadores de seus times tocavam na bola a excitação era geral. Como a partida foi realizada em Minas, cruzeirenses e atleticanos iam ao delírio com Dedé, Réver ou Ronaldinho Gaúcho.
Ah vão dizer, mas o time não estava jogando nada. Concordo que nossa seleção fazia uma atuação pífia. Contudo, estamos presenciando isso há um certo tempo. Talvez, desde a Copa de 2002, que não apresentamos o futebol pelo qual ficamos mundialmente conhecidos. No entanto, isso não foi empecilho para que quase 60 mil pessoas pagassem caro por um ingresso para assistir um jogo às 22h de uma quarta-feira. Sendo assim, a culpa não pode ser exclusivamente da falta de futebol arte. Vai muito além disso.
No meu entender esse comportamento é reflexo de alguns fatores como a politicagem que se tornou o futebol brasileiro. Técnicos são demitidos e admitidos de acordo com vontades políticas não mais por merecimento. Jogadores são convocados por serem de confiança de comissão técnica ou para serem valorizados e vendidos para o exterior e, não por serem os melhores da posição no momento. Alguns não compreendem a importância de defender as cores verde e amarela. De vez em quando, descobrimos que determinado jogador quer escolher os jogos para atuar. Viagem longa, adversário muito fraco, altitude, calor, frio ou uma festinha marcada no mesmo dia do jogo é motivo para não se apresentar, usando como desculpa a boa e velha contusão. Nunca antes na história desse país tivemos tanto jogadores sofrendo de desconforto muscular.
Aliado a isso temos uma imprensa que não esconde de ninguém o prazer que sente em falar mal de nossa seleção. Há jornalistas que passam horas a fio criticando tudo e todos. Ué , mas não estão inventando nada. Só estão relatando o que está acontecendo. Dirá você caro leitor. O problema está na maneira como esse relato é feito. Comentários pessoais feito por pessoas sem domínio do assunto inundam nossa mídia. Poucos são os que conseguem analisar imparcialmente sem se deixar levar por questões pessoais ou de preferência. Isso sem falar no festival de ex-jogadores fantasiados de comentaristas.
Também temos um grupo cada vez maior de locutores que dificultam a identificação com a seleção. Ontem, mesmo Luiz Carlos Júnior (Sportv) passou a transmissão toda falando : Dedé, zagueiro do Cruzeiro; Rever, zagueiro do Atlético; André Santos, lateral do Grêmio; Neymar, atacante do Santos etc. Nada disso. Naquele momento só há lugar para zagueiros, laterais ou atacantes da seleção brasileira. Pode parecer bobagem, mas isso é muito sério. Já convivemos com uma rivalidade muito grande entre os times brasileiros. Coisa que beira a insanidade em determinados casos. Temos que pensar muito antes de fazer qualquer comentário que possa alimentar ainda mais esses idiotas que vão aos estádios fantasiados de torcedores, que se acham no direito de impedir ou agredir qualquer um que ousou não torcer para seu time.
Esse comportamento da torcida brasileira é um sinal de que alguma coisa está fora do lugar. Não podemos achar normal nossa seleção ser tratada desse jeito em nossa casa. Atualmente, é melhor atuar fora do país porque não há mais incentivo. Não somos mais o 12º jogador. Só sabemos criticar e perseguir. Não estou com isso advogando em prol de um patriotismo acrítico. Só me incomoda e muito ver um dos nossos tesouros nacionais desfalecer. Dói imaginar que perderemos uma das poucas coisas que nos dava a alcunha de melhores do mundo. A situação é complicada, mas ainda há tempo de mudança.
Eu ainda tenho orgulho de torcer para a seleção brasileira. Encho o peito para dizer que somos os únicos pentacampeões do mundo. Os Estados Unidos podem ser os melhores no basquete, a Sérvia ter o melhor tenista do mundo, Jamaica o corredor mais rápido, etc. podemos não figurar mais no topo do ranking da Fifa de seleções, mas ainda temos aquela paixão que nos diferencia dos demais. Enquanto houver meninos de pés descalços, em terra batida ou asfalto quente jogando bola nada está perdido. A chama da identidade brasileira ainda arde viva. Basta não deixá-la se apagar.
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