sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

As razões da renúncia de Bento XVI









O mundo foi surpreendido esta semana com o anúncio da renúncia do Papa Bento XVI.
A princípio, o motivo alegado teria sido a idade avançada, problemas de saúde e simplesmente a debilidade física do religioso. Com o passar dos dias, notícias e boatos sobre intrigas, divisões e escândalos dentro do Vaticano foram circulando pelos órgãos de imprensa e atônitos, vemos que se trava verdadeira guerra no mundo Católico. O próprio Papa surpreendeu novamente ao falar abertamente sobre a existência de “Divisões do corpo eclesiástico”, que , segundo ele, “ desfiguram a face da Igreja” e põe em perigo “sua unidade” e conclamou todos a “superar o individualismo e as rivalidades”.
Estranho discurso de um Papa que em seu pontificado nomeou 67 dos 120 cardeais eleitores que apresentarão seu voto sob os afrescos da Capela Sistina no próximo mês. Portanto, apesar do papado de Bento XVI ter durado um quarto do de João Paulo II, ele possui significativamente mais aliados que seu antecessor no Vaticano. Ele foi muito criticado por promover com freqüência cardeais conservadores com um viés pró-europeu, apesar do fato de a maioria absoluta dos católicos no mundo viver em países em desenvolvimento.
Fora da Europa, Bento XVI favoreceu conservadores contra tradicionais posições liberais, tais como homossexualidade, contracepção, aborto e secularização.
John Allen, um analista do Vaticano, escreveu num artigo na terça-feira passada no “National Catholic Repórter”: “pelo menos alguns cardeais podem se sentir fortemente pressionados a não fazer algo que possa ser percebido como um repúdio ao papado de Bento XVI, ou que possa causar consternação a ele”.
Eu concluo, portanto, que a renúncia de Bento XVI já vinha sendo articulada há muito tempo.
Em março de 2012, em meio ás suas férias em Castelgandolfo, Joseph Ratzinger mergulhou num poço obscuro que só seus olhos estavam autorizados a ver: um documento, elaborado por três cardeais octogenários, sobre o sumiço de inúmeros documentos secretos que abaloou o Vaticano, e cujo tremor só cessou após a prisão de Paolo Gabriele, mordomo de Bento XVI.
Some-se a isso: Cardeais brigados entre si, instituições religiosas competindo por privilégios, um secretário de Estado, Tarcisio Bertone, que há muito tempo perdeu a confiança do Papa que, para evitar o escândalo da sua substituição decidiu substituir a si próprio.
Em Setembro de 2009, Ratzinger nomeou o financista Ettore Gotti Tedeschi, ligado ao Opus Dei representante do Banco Santander na Itália desde 1992, presidente do Instituto para Obras de religião (IOR), o chamado Banco do Vaticano. Tedeschi chegou ao Banco do Vaticano com a intenção de limpá-lo, mas antes de completarem três anos ele se deu conta de que aquele trabalho era, efetivamente, muito perigoso. Tanto que na Primavera de 2012, Tedeschi redigiu um informe secreto de tudo o que vira nos meses anteriores. Foi descobrindo que, atrás de algumas contas cifradas, escondia-se dinheiro sujo de políticos, intermediários, construtores e altos funcionários do Estado. Mas não só. Como sustenta o Fisco de Trapani (Sicília), Também Matteo Messina Denaro, chefão da Cosa Nostra, teria colocado sua fortuna no IOR em nome de laranjas.
É esse o Vaticano que Ratzinger abandona.
Mais ainda: Vítimas dizem que Pontífice pouco fez para pôr fim a abusos sexuais.
Foram constatados pela promotoria de Justiça do Vaticano cerca de 4.000 casos de abusos causados por padres católicos em todo o mundo, na última década. 60% dos acusados tiveram sanções leves por conta da idade avançada. A Igreja católica teve que pagar mais de US$ 1 bilhões em forma de indenizações, de 2003 a 2009, por 375 casos denunciados.
Entre 2004 e 2011, oito dioceses declararam falência por não conseguir cobrir os compromissos com a justiça.
Nesses escândalos todos, tivemos notícia de apenas UM condenado: O Arcebispo Edgardo Storni, que foi condenado a oito anos de prisão, em Santa Fé (Espanha).
O escândalo que teve maiores proporções aconteceu em Boston (EUA), em 2002, quando foi descoberto que autoridades eclesiásticas encobriam os crimes e apenas trocavam os padres envolvidos de diocese, sem expulsá-los da igreja nem denunciá-los. Em 2007 a Igreja já havia gasto mais de US$ 600 milhões em acordos com as famílias das crianças. E, na semana passada, o “Los Angeles Times” denunciou que parte dessa verba (US$ 15 milhões) v eio de um fundo destinado à manutenção de cemitérios, sustentado pelas famílias dos mortos.
Caso parecido, de acobertamento dos casos de pedofilia aconteceu na Irlanda e resultou num colapso nas relações diplomáticas entre Dublin e o Vaticano.
Isso tudo sem contar que um tribunal da Argentina denunciou a cumplicidade da Igreja Católica com os militares que governaram o país entre 1976 e 1983.

Detalhe: Roger Mahony, cardeal que acobertou, por 25 anos, o abuso sexual a mais de 500 meninos na região de sua arquidiocese, já está de malas prontas para participar do Conclave no vaticano, ignorando a objeção da opinião pública ao seu nome.



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