Faleceu ontem, quinta-feira, aos 72 anos de idade o lendário
lutador de tele-catch, Ted Boy Marino. Sofreu uma parada cardíaca quando era
operado de emergência por causa de uma trombose.
Todo sábado de tarde, Dona Eudóxia arrastava seus 5 filhos
até a casa de um vizinho nosso pra ver as lutas de tele-catch pela televisão. E
eu ia junto, já que meus pais não gostavam desse tipo de diversão. Nós, as crianças, éramos acomodadas no chão da
sala enquanto os adultos ficavam nos sofás, cadeiras e estofados da casa
anfitriã. Naqueles anos 70, eram raros os aparelhos de televisão, e os vizinhos
mais abastados que possuíam um exemplar, socializavam as imagens para quem não
tivesse TV. Mais vizinhos se acotovelavam do lado de fora, olhando pelas
janelas abertas o emocionante programa.
O enredo era quase sempre o mesmo: Entravam no ringue um lutador “mocinho” e
outro “bandido”. O mocinho sempre começava a luta apanhando e sendo vítima de
golpes desleais dos adversários. Técnico e massagistas ajudavam também os maus
a baterem no indefeso herói e muitas vezes usavam elementos estranhos a uma
luta limpa: cordas, baldes, cadeiras, limão para serem espremidos nos olhos e
outras coisas mais... os juízes também tinham suas divisões... alguns juízes
fingiam não ver os golpes ilegais dos “maus” e eram igualmente vaiados e
xingados por todos nós, espectadores inocentes e ingênuos. No finalzinho da
luta, o herói virava o jogo e mesmo com toda a deslealdade dos “bandidos”, ele
vencia incontestavelmente. A platéia delirava!
Nós levávamos a sério aquelas lutas e ficávamos discutindo
dias e dias para ver quem era o mais forte: Tigre Paraguaio? Mongol? Rasputin?
Verdugo? Ted Boy Marino?
A maioria torcia para o Ted Boy Marino. Era bonitão, lutava
bem e era do lado dos “mocinhos”, mas o Tigre Paraguaio também tinha seus
fãs... tinha um cabelão muito preto que ia quase até o meio das costas.
O Juiz mais famoso era o “Crispim”, que era um bom juiz, mas
franzino, apanhava de quase todos os Maus, quando tentava impor a moral e
a disciplina.
Mongol e Rasputin eram do mal. Ambos carecas, sendo que Rasputin
tinha uma barba avermelhada e o Mongol tinha um bigode enorme, cujas pontas
ultrapassavam a linha do queixo.
Verdugo era um personagem à parte: ninguém sabia se ele era
do bem ou do mal. Usava uma máscara de caveira e tinha um problema na perna,
que não flexionava. Lutava com as mãos estendidas para a frente e quando
segurava o adversário, sua força descomunal praticamente garantia a vitória, mas
a perna rígida era seu ponto fraco. Todos tentavam ganhar a luta atacando essa deficiência
e também procuravam revelar ao mundo seu rosto, que jamais vimos. Houve certa
ocasião em que um lutador finalmente conseguiu retirar a famosa máscara, mas
para surpresa de todos, havia uma segunda máscara por baixo da primeira!!!! Atordoado
com esse truque do Verdugo, o tal lutador acabou sendo presa fácil e perdeu uma
luta virtualmente ganha!
Deles todos, Ted Boy Marino era o mais carismático. Quando nossa
inocência se perdeu e a audiência do tele-catch caiu, Ted Boy Marino foi
aproveitado em alguns humorísticos, quase sempre em situações de luta. Até
ter uma participação fixa em “Os
Trapalhões”.
Por assimilação das cores de sua Pátria querida, a Itália,
passou a torcer para o Fluminense e elegeu o Fla x Flu de 66, decisão da Taça Guanabara
como seu jogo inesquecível. A vitória foi tricolor por 3 x 1, com dois gols de Tilico
e um de Amoroso, contra um gol de Silva, para o Flamengo.
Descanse em Paz, Mario Marino, o nosso inesquecível Ted Boy
Marino!
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