Escreverei muito pouco sobre futebol por aqui. Provavelmente, me dedicarei ao assunto no período de realização da Copa do Mundo. Depois de tudo que aconteceu e ainda acontece em função do campeonato brasileiro passado perdi completamente o interesse. Como vascaína e amante do futebol não digo que me afastarei completamente, no entanto, dedicarei meu tempo e energia a coisas mais gratificantes.
Ano passado foi muito corrido e cansativo. Fiquei em dívida com minhas leituras. A lista de livros para ler só aumentou. Então, esse ano resolvi me redimir. Aproveitei que tirei alguns dias de férias, no início do ano, a fim de renovar as energias para os próximos 365 dias para começar a compensar minhas leituras atrasadas. Aproveitei também para assistir a alguns filmes que já há um tempo esperavam na fila. Gostaria de compartilhar com vocês o que achei de cada um. Vou logo avisando que não sou crítica de nada e nem tenho a pretensão de de ser. Quero somente compartilhar com vocês minhas impressões do que vi e li. Então, vamos lá. A coluna de hoje será dedicada aos livros.
O guia do Mochileiro das Galáxias, Douglas Adams, Arqueiro, 1979.
Ainda em dezembro, enquanto as festas rolavam, me dediquei a leitura de "O guia dos mochileiros das Galáxias", Douglas Adams. Não sou fã de ficção científica, apesar de apaixonada por Arquivo x, mas resolvi investir na leitura após tantas recomendações positivas. Não me arrependi. O livro é muito bom. O autor criou uma história de ficção para criticar nossa sociedade, sobretudo, a burocracia dos serviços públicos, a corrupção, o comportamento egoísta e vaidoso das pessoas etc. O texto é leve e irônico. No momento em que vivemos, no qual a criatividade tem deixado tanto a desejar e vemos um festival de adaptações e releituras. É louvável apreciar a inteligência de um autor que soube criar uma história tão inventiva como essa. Vale a pena a leitura. Tem umas tiradas muito engraçadas.
Avaliação: **** Muito Bom
Relata a história de 2 irmãos (Florence e Gilles) sob a tutela de um tio distante que os deixa aos cuidados de empregados numa mansão na Inglaterra. A narradora é a pequena Florence que ousa descumprir uma ordem do tio e descobre o encantamento da biblioteca particular da casa. Pelas suas palavras vemos o amor incondicional de Florence pelo irmão mais novo. A paixão crescente pelos livros e sua fértil imaginação entrar em ação com a chegada de uma nova tutora.
Essa história não é original. Harding a baseou no conto "A volta do parafuso" de Henry Miller, de 1898. Que serviu de base também para o filme "Os Inocentes", de 1961. Ainda não tive a oportunidade de ler o conto de Henry Miller. Mas, pude assistir ao filme de que também gostei. Conversaremos mais sobre ele depois.
Apesar de ser uma releitura John Harding tem seus méritos ao compor um texto leve e que prende a atenção do leitor do início ao fim. Contudo, achei a primeira parte da história um pouco lenta. No entanto, entendo que tenha dedicado tantas páginas as peripécias de Florence para poder frequentar a Biblioteca a fim de mostrar a personalidade da menina para o leitor. Personalidade que é fundamental para o entendimento e desenvolvimento da história.
Não gostei do título. O título original em inglês é "Florence e Gilles", porém em português, talvez, para surfar no sucesso da "A menina que roubava livros" optaram por essa semelhança. Em meu entender foi um erro porque o título não reflete o conteúdo do livro. Manter o original seria a melhor opção. A capa também não ajuda muito a criar a atmosfera do romance.
Avaliação: *** Bom
Jorge Amado compõe uma história que pode ser o retrato atual de qualquer cidade grande brasileira ao abordar as desigualdades sociais e econômicas da Bahia da década de 1930. Para isso retrata a vida de um grupo de crianças abandonadas, os capitães de areia, que descobrem nos roubos uma maneira de sobreviver. O número é indefinido, mas pode girar em torno de 100 crianças. A história se concentra em alguns desses meninos que ganham destaque: Pedro Bala, o líder: Volta Seca, Sem Pernas, João Grande, Professor, Gato, Boa Vida, Dora etc. E a cada capítulo conhecemos um pouco da histórias dessas crianças e adolescentes através de suas aventuras nas ruas.
O texto é chocante. Esses meninos só são crianças em função de sua idade, pois as preocupações, o comportamentos e as privações são de adultos. A fome, o abandono familiar e da sociedade, a violência, o sexo precoce estão presente fortemente nesse romance. O texto é de 1937 e completamente atual. O sincretismo religioso da Bahia se faz presente na figura do padre e da mãe de santo, que se revezam no auxílio aos meninos. O ideal político do autor ganha corpo através do estivador João de Adão. É muito triste ver que ainda não conseguimos sanar o problema da população de rua, sobretudo, das crianças.
Avaliação: ***** Ótimo
Na próxima semana, falarei sobre os filmes.
Até lá!