sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Holanda 74 x Barcelona 2012 x Brasil ?



Hoje vou fugir um pouco ao meu propósito neste espaço  e misturar um pouco de passado com o presente e o futuro. Na realidade, é o futebol praticado pela Holanda em 74 e o Barcelona em 2011 que proporcionou esse efeito mágico de misturar épocas e estilos. A Holanda de 74 apresentou ao mundo o futebol do futuro e o Barcelona de hoje resgatou os ensinamentos do passado.
Em 1974 fiquei assombrado com a Seleção da Holanda. Sempre repeti para os mais jovens que foi a melhor seleção que já tinha visto jogar. Sei que muitos não acreditavam em mim ou achavam que era exagero de um velho recordando os tempos felizes da juventude mas a realidade era que os holandeses encantaram em primeiro lugar a Europa e depois o mundo com seu futebol-carrossel, ou futebol total, como chamavam na época. Todos defendiam, todos atacavam, sem vaidades nem estrelismos. A premissa básica da chamada “laranja mecânica” era: Tomar a bola do adversário o mais rapidamente possível e mantê-la por mais tempo em sua posse. Simples, não? Sem a bola, o adversário  não pode atacar, não pode chutar a gol e se não chutar a gol, não faz gol, e consequentemente não ganha o jogo. Ter a bola e não saber o que fazer com ela, de nada adiantaria e esse foi o segundo ponto fundamental na Holanda. Os jogadores selecionados  não foram escolhidos de acordo com sua posição mas pela habilidade que demonstravam possuir em campo. Mais ou menos o que foi feito com a Seleção Brasileira em 1970, quando tivemos que deslocar Tostão para centro-avante;  Jairzinho de ponta-direita e Rivelino na ponta-esquerda. Todos esses jogavam com a camisa 10, mas essa já tinha dono, claro: Pelé! Piazza foi recuado para a zaga, permitindo a manutenção de Clodoaldo na cabeça de área. Nenhum desses nomes poderia ficar de fora e o jeito foi arrumar um lugar para cada um no time principal. E olhem que mesmo assim ainda deixamos de fora um jogador excepcional  como Paulo César Caju.
A geração 74 da Holanda era constituída por jogadores inteligentes, versáteis, humildes e não havia vaga para jogadores botinudos, incapazes de tocar a bola com precisão e rapidez. Marcavam por pressão a saída de bola adversária dando muitas vezes a impressão de terem 5 ou 6 jogadores a mais em campo. Cada vez que um adversário dominava a bola era cercado por pelo menos 3 holandeses. A Holanda imprensava o adversário em seu próprio campo, exatamente como faz hoje o Barcelona e o goleiro (Jongbloed), que jogava com a camisa 8, era uma espécie de líbero, e tinha mais habilidade com os pés que com as mãos. Lembrem-se que naquela época ninguém imaginava as mudanças das regras que exigem hoje de um goleiro que seja razoavelmente habilidoso com os pés!!!
Johan Cruijff era o craque da Holanda e funcionava como um técnico dentro de campo. Ele ditava o ritmo holandês:  acelerava, reduzia, orientava os jogadores dentro de campo e dava o exemplo voltando para marcar os adversários e buscando espaços vazios, o que lhe permitia aparecer de surpresa na ponta esquerda, ou direita, ou até mesmo como centro-avante.
A Holanda só não foi campeã do mundo pelo acaso que cerca uma competição em que uma derrota é fatal. Mas foi ela, e não a Alemanha campeã, quem fez história.
Passados quase 40 anos, o Barcelona repete a receita holandesa e os resultados são os mesmos: Vitórias, vitórias, vitórias. Por que a fórmula original holandesa foi abandonada até mesmo pela própria Holanda é um mistério mas porque o Barcelona foi buscá-la, é obra de Johan Cruijff que foi jogador do clube por muitos anos, foi treinador e até hoje é uma voz muito influente e respeitada no clube Catalão. Inclusive treina ainda hoje a Seleção Catalã .
Não adianta estarmos aqui elogiando a Holanda e o Barcelona. Como o próprio Neymar confessou após a acachapante derrota na final do Mundial Interclubes da Fifa de 2011, o Santos (e os times brasileiros em geral) teve uma lição de futebol.
Será que aprendemos?
Antes de tudo, há que mudar a mentalidade. Falta visão. Não é que faltem jogadores para os times brasileiros. Messi talvez não explodisse no futebol brasileiro contemporâneo. Poderia ser preterido , já na base, por jogadores ao estilo Dunga.  Desde a base, é dada a preferencia a jogadores que basicamente sabem pouco mais que destruir as jogadas adversárias, na maioria das vezes com faltas desclassificantes. Duas ou três vagas no meio campo são destinadas a eles e na maioria das vezes não sobra camisa para um jogador criativo. Por que o técnico os escala? Por medo de perder o cargo! Se a base fosse vista como lavoura para se colher os frutos na fase profissional, nossa história seria outra! Uma medida simples seria ter professores de futebol e não técnicos na base. Professores, esses, livres da pressão de obter resultados numéricos em termos de campeonato e sim em numero de jogadores formados no Clube. O futebol bonito pode, sim, ser vencedor. Depois de 82 e 86 se consagrou a idéia de que precisávamos nos europeizar para vencer. Infelizmente o Brasil caminhou na direção de Zagallo e não na de Telê.  Dunga e agora Mano são filhos de Zagallo, bem como Muricy.  
É patético que na terra de Pelé, Gérson, Rivelinno e Garrincha tenhamos que ver jogar o Barcelona e ouvir as entrevistas de Guardiola para lembrarmos o que é arte no futebol.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Panorama da NFL


Depois de uma derrota constrangedora, os Cowboys se preparam para enfrentar seus maiores rivais neste próximo domingo. Sim, teremos num Sunday Night Cowboys x Giants, podendo valer a liderança do grupo. Agora não é hora para cometer erros como na partida contra os Cardinals, quando os Cowboys erraram um fieldgol depois do técnico pedir tempo e desconcentrar o kicker. Coisa de amador, no meu ponto de vista.

Vai ser difícil superar a boa fase de Ely Manning. Mesmo jogando fora de casa o QB consegue manter a calma e comandar a equipe nos momentos mais críticos. Já não podemos dizer o mesmo de Tony Romo que, apesar de ter jogado bem contra os Cardinals, não passa uma confiança para sua equipe e principalmente para seus torcedores. Vamos torcer para que jogando em casa ele cresça e distribua vários passes para touchdown.

E que vacilo a comissão técnica dos Cowboys, heim? Pedir tempo justo na hora em que o kicker esta preste a marcar o ponto da vitória do jogo? Se fosse a equipe adversária tudo bem, mas da própria equipe? É pedir para perder mais um jogo e correr o risco de ficar de fora dos playoffs.

***

Só posso indicar uma equipe favorita ao título do Superbowl esse ano: Green Bay Packers. É impressionante como Aaron Rogers e companhia vem jogando. É a única equipe ainda invicta na NFL. Podem vir a perder alguns jogos agora, já que estão matematicamente classificados aos playoffs podem escalar os jogadores reservas. Parabens para e quipe da baia verde.

E os Colts? Que fiasco, heim.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Rei! Rei! Rei!



Reinaldo, do Atlético Mineiro

Rei, Rei, Rei! Reinaldo é nosso Rei! Esse era o grito que a torcida do Atlético Mineiro entoava no final da década de setenta, início dos anos oitenta. Por doze anos, ele foi o soberano do Mineirão.






Reinaldo ficou consagrado por sua genialidade, seus dribles desconcertantes e sua vocação para o gol. Conseguiu levar o Atlético-MG a sete títulos mineiros em oito anos (1976, 78, 79, 80, 81, 82 e 83), sendo artilheiro do time e do campeonato inúmeras vezes. Em 1977, Reinaldo estabeleceu um recorde que só foi batido 20 anos depois: o de artilheiro do Campeonato Brasileiro com 28 gols. Porém, se levarmos em conta que o Atlético Mineiro disputou apenas 21 partidas, ele teve uma média de 1,33 gols por jogo, o que daria hoje, com 38 jogos, um total de 50 gols!!!!
A curiosidade sobre esse campeonato, vencido pelo São Paulo, é que o vice colocado, Atlético Mineiro não perdeu um só jogo durante a competição (assim como o Botafogo) e terminou o certame com dez pontos de vantagem sobre o vencedor. Coisas do Brasil!




Precoce, Reinaldo começou a jogar no time profissional do Atlético Mineiro em 1973 com apenas 16 anos. Reinaldo praticamente pulou das categorias de base para os profissionais e não teve tempo de aprender as malícias dos zagueiros adversários, bem mais experientes e maldosos e pagou caro pela sua habilidade. Em razão das entradas duras e desleais dos adversários, fez um total de nove operações em seus joelhos, ao longo da carreira. Em operações sucessivas, Reinaldo sofreu duas intervenções cirúrgicas no joelho esquerdo. Extraiu, na primeira, o menisco interno; na segunda, o externo. Nestas ocasiões foi operado pelo médico Abdo Arges. Logo depois, pelo médico Neylor Lasmar. Foram retirados os outros dois meniscos, da perna direita. Com isso, Reinaldo era obrigado a treinar todos os dias sem folga, pois seus músculos podiam tender à atrofia, se parados. O artilheiro pendurou as chuteiras de forma pré-matura, com apenas 31 anos.
Fez parte de uma geração espetacular, com destaque para Toninho Cerezzo, Paulo Izidoro, Luisinho, João Leite e Marcelo, talentosos jogadores que formaram um dos mais fortes times do Galo.




Reinaldo não era um Tostão mas era inteligente como ele; Não era um Ademir da Guia, mas tinha sua elegância; Não era um Romário, mas tinha a mesma frieza e habilidade em fazer gols. Enfim, Reinaldo era uma mistura desses jogadores excepcionais, o que o tornava mais extraordinário ainda.
O que mais me agradava em Reinaldo era a forma elegante como fazia seus gols. Em geral, ele apenas tirava a bola do alcance do goleiro, dando um leve toque por cima, sem usar força desnecessária.



A final do Campeonato Brasileiro de 80 foi emocionante: O Atlético vencera a primeira por 1 x 0, gol de Reinaldo e veio ao Maracanã para o segundo jogo, precisando apenas do empate. O Flamengo tinha um time poderosíssimo que no ano seguinte viria a ser campeão mundial interclubes e abriu o placar com Nunes. Reinaldo empatou logo em seguida e no final do primeiro tempo Zico fez 2 x 1 para o Flamengo. O jogo era nervoso, violento e como sempre, Reinaldo era caçado em campo. Completamente sem condições de jogo, Reinaldo foi mantido em campo apenas pela sua extraordinária habilidade e enquanto o maracanã inteiro gritava “Bichado! Bichado!” , o craque mineiro respondia com dois lençóis consecutivos no grande lateral esquerdo Júnior junto a linha de fundo. Mancando e podendo tocar na bola apenas de leve, Reinaldo ainda empatou o jogo, aos 22 minutos do segundo tempo. O Juiz, então resolveu dar uma ajudinha ao time do Flamengo e expulsou Reinaldo, alegando que o atacante retardava o andamento do jogo, pois o empate dava o título ao galo. Aos 37 minutos, nova confusão quando o juiz deu um impedimento duvidoso e acaba expulsando o técnico Procópio. No reinício, com o time do Atlético ainda reclamando da expulsão de seu técnico, Nunes é lançado e marca o terceiro gol do Flamengo. Nova confusão, mais dois jogadores do Atlético são expulsos e o jogo termina com o Flamengo sendo Campeão Brasileiro pela primeira vez. Reinaldo nunca seria campeão brasileiro.



Foi um jogador diferenciado, que jogou mais ou menos dez anos com 90% de cérebro e 10% físico. Ainda assim infernizou defesas adversárias, marcou gols e fez jogadas antológicas. E sua média de gols no campeonato Brasileiro ainda não foi batida!
Reinaldo sempre se interessou pela política nacional e se posicionou contra a ditadura. O gesto que fazia, braço direito levantado e punhos cerrados, para comemorar cada gol era motivo de discussão. Remetia, tal gesto, aos Panteras Negras, militantes da causa negra nos EUA. Após a carreira de jogador foi eleito Deputado Estadual pelo PT e cumpriu mandato como vereador pelo Partido Verde. Além disso, Reinaldo foi comentarista esportivo na TV Alterosa.



Em 1998, teve um envolvimento com traficantes de drogas e admitiu ser usuário de cocaína, chegando a ser condenado a quatro anos de prisão por tráfico, mas absolvido em segunda instância.




Reinaldo foi, sem sombra de dúvidas para mim o melhor centro avante (número 9) que eu vi atuar!